segunda-feira, 8 de abril de 2019

Uma breve linha do tempo do corset

    A peça que chamamos de corset hoje sofreu diversas mudanças ao longo do tempo. Com a principal função de sustentar o corpo e delinear a silhueta desejada, o corset (com seus diversos nomes) esteve presente na moda feminina desde 1500 até o início do século XX. São séculos e séculos de história e minha intenção aqui é apresentar os principais aspectos que diferenciam uma época da outra sem ser demasiadamente descritiva.  


    É no fim da era medieval que as roupas femininas passam a contornar mais o corpo, e com o renascimento começamos a ver peças cada vez mais estruturadas, que não só contornavam o corpo como moldavam-no surge então os primeiros 'corsets'.

Período Tudor (1500-1600)


    As primeiras peças que cumpriam essa função de dar suporto ao tronco foram os pair of bodies ou pair of stays, que surgiram durante o século XVI. Estamos aqui no início da história da moda propriamente dita, e a elite buscava uma vestimenta que a diferenciasse. Sendo assim, um tronco alongado e postura ereta era uma forma de demonstrar poder, e o pair of bodies contribuía para que essa silhueta fosse alcançada. Com barbatanas de baleia em volta de toda a peça e na parte da frente uma placa de madeira (busk) que era utilizada para manter a peça rígida, nem sempre possuíam forro e tinham ilhós para manter a anágua no lugar. Existem poucos registros de pair of bodies originais que tenham sobrevivido ao tempo, mas aparentemente as peças não possuíam decorações. Foi nessa época também que surgiram aqueles corsets de ferro que vemos por aí, mas seu uso era ortopédico. 

Barroco (1600-1720)


    O barroco na moda acontece por volta do século XVII e se estende até o início do século XVIII. Nessa época o stays cai em desuso, e era o corpete do vestido que recebiam as barbatanas para deixá-lo rígido e estruturado. 

Rococó (1720-1770)


    Aqui, a linha do busto dos vestidos se torna cada vez mais baixa, e os stays vão só até a linha dos mamilos. A silhueta é cônica e vemos modelos com e sem abas na parte de baixo, que serviam para evitar que a anágua escorregasse. Também é nessa época que se torna mais comum os stays com amarração frontal, que facilitava na hora de vestir. Podiam ser peças simples ou ricamente decoradas. Já abordei stays do século XVIII anteriormente, e vocês podem conferir o post aqui

Diretório (1770-1800)


    Depois da revolução francesa a moda muda drasticamente, e a busca é por roupas que sejam menos restritivas e mais leves; E consequentemente as roupas debaixo acompanham essa mudança. Surge então o short stays, que são modelos mais curtos cuja função é sustentar os seios sem comprimir a cintura. O padrão de beleza também passa a ser seios separados e 'em bandeja'. 

Império e Regência (1800-1890)


    Ainda leves, os stays voltam a ser compridos. É possível observar também que o uso de barbatana se reduz ou até mesmo é substituído por barbantes. As decorações são mais discretas, e constituem em bordados ou o uso de tecidos coloridos. 

Era vitoriana inicial (1830-1850)


    Também chamada de romantismo, o início da era vitoriana traz a volta do traje em duas peças, e voltamos a ver saias armadas em contraste com corpetes ajustados. Aqui 'corset' passa a ser o nome mais usado pra definir esse tipo de peça, que é usado cotidianamente por mulheres de todas as classes sociais. As alças desaparecem a cintura volta a ser afinada. O uso de nesgas ajuda a peça se encaixar melhor nos quadris.

Era vitoriana tardia (1850-1900)


     A invenção do busk junto com o uso de barbatanas e ilhós de aço mudou completamente a confecção dos corsets, permitindo que as peças fossem cada vez mais apertadas e com modelagens mais curvilíneas. É também o início da prática do tight-lacing (uso constante do corset afim de diminuir medidas) por algumas mulheres. No final do século XIX a cintura é fina como nunca antes, e vemos peças ricamente decoradas. A partir de 1890 também surgem corsets que não cobrem mais o busto e são mais curtos, chamados de waist-cincher. Tem um post aqui no blog só sobre corsets vitorianos,com curiosidades e desmitificando algumas coisas. 

Era Eduardiana (1900-1920)



    Depois da virada do século os corsets se alongam e a silhueta buscada é em formato de S: ombros volumosos, cintura fina, abdômen comprimido e quadris projetados para trás. Novamente o corset ajuda a conquistar a silhueta desejada e esse efeito era atingido mesmo com peças mais leves, seja com peças com apenas uma camada de tecido ou até mesmo corsets feitos com fitas costuradas em pontos estratégicos. Também era comum que a peça tivesse ligas que eram presas à meia. 

    Fatores como a primeira guerra mundial e a maior inserção da mulher no mercado de trabalho fizeram o corset cair em desuso. A peça só voltaria a ser usada novamente com frequência durante a década de 1950 com o New Look da Dior e também teve um revival na década de 80 e 90, mas isso é assunto para outro post. 

    Ps.: As datas usadas para definir os períodos são baseadas nas mudanças na história da moda na Inglaterra e França, que eram nações influentes em relação à moda. 


Referências:

Corsets and Crinolines, Norah Waugh
The History of Underclothes, Cecil Cunnington
Corsets in context: a history - Fine arts museum of San Francisco


Outras leituras recomendas: 




3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Qual é a diferença entre o corset desossada?
    Eu vejo alguns lugares com essa descrição e não entendi?

    Thallyawolf@gmail.com

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    Respostas
    1. Mandei por email mas colando aqui também:

      Desossado é uma tradução de boned. Em inglês bone é osso, e os espartilhos originalmente eram feito de ossos de baleia.

      É uma tradução automática que aparece em sites de compra como o aliexpress e basicamente significa que é um corset com barbatanas (não necessariamente de baleia, rs).

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