segunda-feira, 19 de março de 2018

O bordado na era vitoriana

O quanto de história e sociedade podemos contar a partir de uma peça de roupa? E um detalhe? Eu acredito que muito, afinal a moda é um reflexo da sociedade, suas normas, tecnologias, contexto histórico. Hoje falo sobre bordado, e principalmente o papel dele no século XIX.

A moda do século XIX:

Vestido de corte português, 1845


Resumindo a moda vitoriana feminina em apenas algumas linhas, podemos dizer que ela se baseava basicamente em camadas, silhuetas, ornamentos e extravagância. Temos saias armadas, babados, peças estruturas como corsets, mangas bufantes... Era uma moda num geral extremamente detalhada, onde estar o mais 'enfeitado' possível era o ideal. Sendo assim importância do bordado na moda era grande, já que podia tornar peças aparentemente básicas mais interessantes visualmente.

Até o início do século todos os itens de vestuário eram feitos à mão. A invenção da máquina de costura algumas décadas depois agilizou a produção de peças básicas e de uso cotidiano, o que não impediu que peças mais detalhadas continuassem em voga. A busca por peças ornamentadas assim seguiu por exemplo até a década de 1880, onde bordado decorativo em peças de seda era popular.


Bolsa feita em Varanasi, em 1862

Não só pra decoração de roupas, o bordado também era usado em itens para decoração como cortinas, almofadas, biombos etc.


Sua difusão:


Página de um manual de trabalhos manuais de 1887

Modelos e moldes de bordado eram divulgados em revistas como a Peterson’s Magazine e a Godey’s. Essas revistas eram dedicadas ao público feminino e continham receitas, novidades sobre moda, peças de literatura e afins. Revistas assim eram muito importantes e basicamente continham tudo o que uma mulher bem informada deveria saber.

Era comum também os ‘samplers’, uma espécie de catálogo de tipos de pontos e alguns desenhos. Durante a era vitoriana os trabalhos manuais eram divididos em duas categorias: plain work, que incluía remendar roupas ou fazer artigos simples, e o fancy work, que se tratava de peças em tricô, bordados e outros itens mais decorativos.


"Um bordado simples ou sofisticado costuma proporcionar uma parte da recreação noturna para as mulheres da casa".
Beeton's Book of Household Management, 1861

Enquanto o plain work ficava mais para mulheres de classes mais baixas (muitas vezes enquanto trabalhavam em outras casas), as mulheres de classe média e alta não deixavam de enfeitar suas roupas com bordados, para demonstrar que eram habilidosas.

Trabalhos manuais eram ensinados às meninas em casa e na escola, inclusive escolas profissionais, como a The School of Art Needlework, fundada em 1872, que foi uma escola completamente dedicada a ensinar bordado.

Segundo o livro belding Self instructor, apesar de ter um professor seja a melhor forma de aprender, bordar é algo perfeitamente possível de se aprender com livros também. Para os iniciantes, era indicado que fizessem aventais, por ser uma peça simples e que não requer muito material.


Seu papel social:


“Trabalhos manuais ensinavam humildade, economia, caridade, e indústria, qualidades importantes para uma civilização avançada, de acordo com o pensamento vitoriano”
Victorian Needlework

Era importante para uma mulher de boa família saber realizar alguns trabalhos manuais, e provavelmente o bordado estava entre um dos mais praticados e valorizados. Era uma atividade considerada básica para qualquer mulher, que aprendiam a técnica desde criança. Além disso, era um detalhe muito utilizado em peças femininas e masculinas da época.


Portraits in the Countryside por Gustave Caillebotte, 1876.

Durante o século XIX boa parte das mulheres não trabalhava, sendo assim passavam muito tempo em casa e esse tempo precisava ser preenchido de alguma forma. O bordado mantinha as mulheres ocupadas e também era considerado uma atividade de lazer para se fazer junto de visitas, principalmente amigas íntimas.

Com uma grande tradição histórica, o bordado no século XIX já era considerado uma forma de arte, com desenhos elaborados seja em itens de decoração ou vestuário. Era também uma forma de as mulheres se expressarem, numa época em que não tinham tanto espaço para isso.

Podemos ver como mesmo um detalhe de uma roupa revela peculiaridades sobre história da moda, tecnologia têxtil, contexto histórico, padrões de comportamento... O quê e como uma mulher bordava podia indicar a classe social dela e seu papel na sociedade. Mesmo uma atividade muitas vezes tida como um passatempo movimentava o mercado e delimitava expectativas em relação a papeis de gênero.

Referências:

5 comentários:

  1. História da moda sempre me encanta <3
    E saber sobre bordados também, sei fazer ponto cruz e crochê, mas nunca fui atrás para saber as origens.
    Muito bom o texto, vou fuçar mais o blog.
    Beijos.

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    Respostas
    1. Eu to ainda aprendendo bordado, mas é algo que acho lindo e fico fascinada porque é uma técnica muuuito antiga e que sempre esteve presente na moda, aliás ainda tá, eu acredito eu xD

      Beijos

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  2. Muito bom sabermos sobre a arte de bordar. Tenho muito interesse por tudo que se relacione a costura e bordados. Estou sempre procurando aprender sobre o como fazer e suas origens. Belo artigo esse, gostei muito.

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