quinta-feira, 7 de maio de 2015

Persuasão: Livro e filme

"Não perdoara Anne Elliot. 
Ela o tinha feito sofrer; o deixara e o decepcionara. E pior, ela tinha demonstrado uma fraqueza de caráter ao fazê-lo que, para um temperamento confiante e decidido como o dele, era insuportável. Ela desistira dele para agradar a outros. Tinha sido o efeito de uma persuasão excessiva. Tinha sido fraqueza e timidez." 


Livro:

    O livro conta a história de Anne Elliot, a segunda filha de um baronete à beira da falência que é convencido a mudar-se para Bath para poder manter seu padrão de vida, alugando a casa em que moravam. Anne Elliot, ao invés de ir para Bath é convidada a passar algumas semanas com sua irmã mais nova, que mora em uma cidade vizinha.

    Acontece que a casa de Anne é alugada para o irmão do Capitão Wentworth, homem que 8 anos atrás pediu Anne em casamento mas que ela o recusou mesmo amando-o, porque foi persuadida por uma amiga da família chamada Lady Russel, que estava convencida de que Wentworth não era um bom partido por não ter dinheiro e boas relações.

    Não é imediatamente mas Wentworth e Anne acabam se encontrando novamente. Ele a trata sempre com educação porém com uma certa frieza, enquanto ela age da mesma forma mas em compensação podemos saber o que ela pensa, e como essa situação a deixa angustiada e triste. Já sobre Wentworth pouco sabemos, pois ele está sempre distante.

    No livro, cada personagem nos é apresentado de forma esmiuçada. Austen faz questão de gastar vários parágrafos descrevendo o caráter e personalidade de cada um, o que é ótimo! Um homem vaidoso, como Walter Elliot, uma mulher prática como Lady Russel, uma irmã egoísta, como Mary...são alguns dos julgamentos que ela faz dos personagens. 

    Anne é descrita como uma mulher de aparência comum, sem grandes atrativos, que acaba sendo deixada de lado pela sua própria família quando não pode ser útil (mas diga-se de passagem que na verdade Anne tenta sempre ser útil). É solitária mas ainda assim muito gentil com todos que se aproximam. Algo que a deixa melancólica é o fato de ela já estar passando da idade de casar (tem 27 anos), e estar sem perspectivas de encontrar um novo pretendente. 

    Gosto de Persuasão porque ele também parece ter um tom mais maduro, com uma porção maior de drama, em relação a outros livros da Jane Austen. É possível perceber o clima do livro pela citação que inicia esse post. Não é tão 'água com açúcar' como os outros que li dela (Northanger Abbey inclusive já comentei aqui no blog).

    Nele, Anne reflete bastante sobre a sua escolha e o fato de ter cedido à persuasão. O livro fala bastante sobre arrependimento, e sobre como Anne lamenta ter perdido o que acreditava ser a sua única oportunidade de ser feliz. É bem interessante ir notando o amadurecimento da personagem, que ocorre basicamente através de suas reflexões. 

    A reflexão que o livro traz em relação à persuasão (um tema recorrente na trama) por meio de diálogos dos personagens também é ótima. Jane Austen tem um talento especial para dizer muito da história apenas pelas conversas entre seus personagens. Para mim, a 'lição' do final é que você não precisa necessariamente se rebelar contra tudo e todos, mas que ter firmeza de caráter e manter-se fiel a seus sentimentos é essencial.

Citações do livro:

    "Agora, eram estranhos um ao outro; não, pior que estranhos, pois nunca poderiam se tornar próximos. Era um estranhamento perpétuo." 

    "Estou entre a agonia e a esperança"

    Persuasão foi publicado postumamente em 1817, sendo o último livro que Jane Austen deixou concluído. 


Filme de 1995


    Pra mim o destaque dessa adaptação é a fofura da atriz que interpreta a Anne. Ela representa bem a personagem como é descrita no livro, como uma mulher que já não é tão nova porém é bastante gentil e prestativa. 


   O figurino é bem caprichado e é possível ver vários spencers diferentes, acessórios para cabelo variado, etc... Fiquei com a impressão de que a Anne Elliot usava bastante tons claros, como azul, o que a deixava com um ar bem inocente. O filme no geral é bem fiel ao livro mas carece de emoção, não achei os atores carismáticos no geral.


Filme de 2007:


    O visual do filme em si é encantador, cheio de belas paisagens e cores vivas. Adorei a forma como a Anne olhava diretamente para a câmera algumas vezes enquanto ela refletia, e acredito que isso dava um ar bem profundo à cena apesar de ser intimidador no começo, rs. As cenas em que ela chorava também eram bem emocionantes. Mas confesso que por vezes me irritava a falta de reação da personagem, a atriz acabava ficando com cara de boba, coitada. Já a Lady Russel estava tão classuda! É bem como imaginei a personagem, como uma mulher mais velha mas e bem elegante. O ator que fez o Capitão Wentworth também foi uma boa escolha na minha opinião, conseguiu transmitir bem a personalidade mais reservada do personagem.  Além do mais, dá pra perceber que os atores que interpretam Anne e Wentworth tem mais 'química' que na versão anterior.


    Nessa versão existem algumas cenas acrescentadas que não estão no livro (como algumas em que o Capitão Wentworth conversa com seu amigo e a cena final), mas para mim essas mudanças foram pra melhor! Não tem como não se derreter com a última cena.
    O figurino desse filme é mais simples e eu diria até que, no caso das roupas da Anne, apagado. Creio que a intenção era fazer para ela um figurino (e penteados) mais básico mesmo como que para destacar a personalidade dela ao invés de sua aparência. Achei a trilha sonora bem bonita, muitas vezes era ela quem deixava algumas cenas angustiantes. Tem uma pequena amostra dela aqui.


    Sim, a versão de 2007 acabou sendo a minha favorita, rs. Achei o filme lindo, com bastante sentimento. Ainda assim acho que a de 1995 também tem seu charme, então, se você for ler o livro recomendo que veja as duas para comparar, ou então assista apenas a versão de 2007 caso seu interesse maior seja em filmes baseados na obra de Jane Austen.