sábado, 28 de dezembro de 2013

As Ligações Perigosas: Filme e livro

O título do post está como Ligações Perigosas, porém em algumas traduções do livro título ficou como As Relações Perigosas.

O livro é uma coletânea da correspondência entre alguns aristocratas franceses e se passa na década de 1780, onde o Visconde de Valmont e a Marquesa de Marteuil,  libertinos declarados e antigos amantes, ficam no centro da trama, já que ambos manipulam e  interferem na vida dos outros personagens a seu bel prazer. Valmont, com seu projeto de seduzir a Presidenta de Torvel, uma mulher casada e que está morando com sua tia no campo, e a Marquesa de Marteuil, que tem como objetivo "corromper", a Cecílie de Volanges para se vingar, usando para isso o Cavalheiro Danceny. Nas citações ao final do post dá pra ter uma ideia do caráter dos personagens.



Figurino



O figurino é impecável! Além de lindo achei que é bem pensado e historicamente  correto. Cada personagem usa roupas um tanto diferentes, pois a personalidade dos personagens é mostrada através de suas roupas. Em várias cenas vemos que a preocupação se estende pra roupa de baixo (o que pra mim é uma das coisas que indica um bom figurino). Aqui tem vários screencaps do filme, pra quem quiser conferir o figurino.

 A Marquesa de Marteuil usa até mesmo uma réplica de um quadro da Mme de Pompadour:


Já os figurinos da Presidenta de Torvel são mais sóbrios:



Eu geralmente não comento sobre ambientação por não entender muito do assunto, mas nesse caso a decoração foi algo que também me chamou a atenção por ser lindíssima, pois foi filmado em construções francesas históricas. A trilha é bem aquela típica de filmes de época, rs. Diria que é um tanto neutra...


Diferença livro x filme e sua adaptação

Como o livro é todo em cartas, logo de cara podemos perceber que a narração precisa ser toda modificada pra dar certo como filme. Também houveram cortes em relação às ações da Marquesa, porque o filme fica mais focado no Valmont. Mas de qualquer maneira é uma boa adaptação. A essência dos personagens e da história está toda lá.



Eu adorei a história desde que vi o filme e recomendo, e pretendo ver as outras adaptações que existem, vi que tem até mesmo uma coreana, hehe.

Citações do livro (sem spoilers):


Longe de mim a ideia de destruir os preconceitos que a obsedam: aumentarão minha felicidade e minha glória. Que acredite na virtude, mas que a sacrifique a mim. Que suas faltas a amedrontem sem a deter e que, tomada de mil terrores, só possa esquecê-los e dominá-los em meus braços - Viconde de Valmont

Ignorais o quanto  a solidão aumenta o ardor do desejo - Valmont

Tenho necessidade de possuir essa mulher  para redimir-me do ridículo de estar enamorado dela - Valmont

Poderá haver prazer com as pudicas? - Marquesa de Marteuil

Tenhamos boa fé; em nossas combinações tão frias quão fáceis, o que chamamos felicidade é apenas prazer - Marteuil

Só nos devemos permitir excessos com quem pensamos deixar muito breve - Marteuil

Deixar-me acreditar-vos perfeita: é o único prazer que me resta - Valmont

É preciso se acostumar às grandes emoções  quem se destina às grandes aventuras - Marteuil

Este amor, que antes fazia o encanto da minha vida, me é agora um tormento - Cavalheiro Danceny

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Tutorial swiss waist

 Como prometido, aqui vai o tutorial do swiss waist que eu usei no meu traje de chá.

Portrait of Princess Mathilde of Bavaria, late 1890s in a dress with a swiss waist

Sobre swiss waist:

  Swiss waist é ama peça semelhante a um corselet ou cinto usada por cima da roupa durante a era vitoriana, entre as décadas de 1860 a 1910. É estruturada com forro e barbatana e se diferencia de um corset waist cincher por não possuir o busk na parte da frente, sendo que por vezes há uma amarração frontal.

  Lembrando para esse tutorial que é uma peça pra usar "de enfeite", então ela será feita na medida da cintura e com uma estrutura básica, pois a pessoa já vai estar usando um corset com estruturação correta por baixo. Além do mais acho válido acrescentar que não sou historiadora e esse tutorial é baseado nas minhas pesquisas.

Materiais:

Menos de 0,5m de tafetá
Menos de 0,5m de brim
Aprox. 1,2m de viés de algodão fino
Aprox. 1,2m de barbatanas de plástico/silicone
Aprox. 10 ilhós
Aprox. 30cm de viés de cetim largo (da mesma cor que o tafetá)

Todas as medidas são aproximadas porque variam de acordo com o tamanho da pessoa.

Passo 1: 
Fazendo o molde.
   O molde de um swiss waist é bem simples (apesar do desenho confuso, rs). Em vermelho estão as linhas que de fato delimitam a peça, em preto as linhas guias pra construção do molde, e em verde estão as medidas que eu usei pra fazer a minha peça. As curvas podem ser mais profundas ou não, dependendo do seu gosto, mas as laterais precisam ser retas.
   É um molde bem intuitivo de se fazer, e uma dica pra ver se o tamanho está bom é cortar no papel e envolver na cintura em frente a um espelho, pra ver como fica.

 O meu molde depois de cortado:

 Passo 2:
Cortar os tecidos.
Pra cortar a parte da frente deve ser posicionada na dobra do tecido. É nessa hora que eu acrescento as margens de costura, sendo de 1cm em toda a sua extensão.

O brim será usado para o forro, e deverá ser cortado assim:
 Já para cortar o tafetá, faremos uma abertura (na linha central do molde) de aproximadamente 8cm , pra que o tafetá fique com esse aspecto drapeado.

Passo 3:
Marcar aonde irão as barbatanas com o lápis.
Também é algo intuitivo, eu dispus minhas barbatanas da seguinte maneira: 2 barbatanas atrás, sendo uma reta e outra inclinada, uma na lateral, e 2 na frente, sendo uma reta (a central) e outra inclinada.


Passo 4: 
Costurar o viés onde a barbatana irá passar.
A marca feita no passo anterior deve ser posicionada no meio do viés, e a costura passa nas duas laterais, onde tem aquela aba.

Depois de pronto:
 Se você se pergunta o porquê de azul, é que era o único viés fino que eu tinha e eu estava com preguiça de ir comprar outro, mas recomendo que escolha um viés da cor do forro.

Passo 5:
Colocar a barbatana dentro das canaletas de viés.
É importante que a barbatana fique de 0,5cm a 1cm da margem de costura para que a barbatana não seja costurada e não atrapalhe quando a peça precisar ser virada.

 Passo 6:
Costurar o forro no tecido principal.
Para costurar assim, o lado direito do tafetá deverá estar para dentro junto com o lado direito do forro (a parte onde não aparecem as canaletas das barbatanas) na hora de costurar. Somente as partes superior e inferior serão costuradas.
 Passo 7:
Desvirar  a peça.
Como a peça foi costurada com as duas faces externas pra dentro, é preciso desvirá-las para que as faces que estavam dentro fiquem para fora.

Passo 8: 
Pespontar a face externa.
Passe uma costura do lado de fora, pra manter o tafetá no lugar e dar um acabamento mais bonito.

 Como fica após pespontar:

Passo 9:
Fechar a lateral.
Na hora de fechar o tafetá deve ser costurado franzido por cima do brim, para que o efeito drapeado se mantenha.

 Passo 10:
Costurar o viés.
Para costurar você tem que primeiramente dobrar a parte de cima, posicionar o viés no avesso, costurar, dobrar pra frente e costurar de novo.

 Depois de pronto:


Passo 11:
Marcar o lugar dos ilhós.
Os ilhós precisam ser marcados paralelamente nas duas laterais, eu fiz eles com um espaço de 3cm entre eles.


Passo 12:
Pregar os ilhós.
E aí que o alicate entra. Você primeiro usa ele pra fazer os furos nos lugares marcados, e depois para pressionar e fixar o ilhós em seu lugar.


Depois de pronto. Note como o primeiro ficou amassado, eu tinha posicionado o alicate de forma errada na hora de pressionar, tomem cuidado com isso.

E fim! Agora é só passar a fita de cetim (eu passei da mesma forma que se passa em um corset) para vestir. Como ficou o meu:



Outras ideias de como adaptar esse tutorial:

Pierre Carrier Belleuse, Woman in a blue-trimmed blouse, 1895-1900

1860's

Tea gown 1885

É isso, espero que tenham gostado e qualquer dúvida é só comentar que eu respondo ^^

Principais fontes consultadas: 
The cut of womans clothes: 1600-1930 - Norah Waugh
The dreamstress
MET Museum


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Traje de chá 1890s

  Eu já tinha comentado aqui a minha intenção de fazer um traje de chá (ou tea gown)  pro próximo evento do PVSP. E bem, esse evento já foi e agora é hora de falar sobre a confecção do meu traje, hehe. Dessa vez não vou me estender em vários posts como eu fiz com o de 1851 até porque o traje é bem simples.
 
 Então vamos lá. Já aviso que farei o costumeiro pic spam, estejam preparados, haha.

Inspirações:

Eu estava basicamente procurando por trajes constituídos de um robe prático (o que aqui significa adaptável a outras épocas e situações), um vestido, e swiss waist, mas nada que fosse muito complicado ou caro porque o tempo era curto. Esses daqui foram os que mais me baseei pro modelo:

 Vestido de 1891-92

 1885


 1891

 1891

1890
1890

Underwear:

Como roupa de baixo usei o meu corset de 1890-95 ( e dessa vez ele não apareceu de forma anacrônica como da outra vez, hehe), as drawers e a anágua lisa do traje da Victoria. Eu não vi necessidade de fazer novas... Mas para sustentar o vestido fiz um bumpad: 

Eu fiz esse bumpad na intuição porque vi praticamente nenhuma da época que eu estava me inspirando (1890-95).

Robe:

  O robe  foi feito em voal por motivos puramente econômicos, rs. E escolhi fazer ele com esses franzidos atrás e na frente para que o tecido possa ser reutilizado depois se houver necessidade. Era a peça que achei que daria mais trabalho porém foi até rápida de fazer e eu simplesmente amei o resultado e desisti da ideia de desmanchar pra reutilizar o tecido.

Vestido:

 Pesquisando vi que ele poderia ser feito sem recorte na cintura e assim escolhi fazer pelo mesmo motivo do robe (economic Juliana mode: ON). Ele é quase um saco de batatas hahahahaha no decote é franzido com uma fita de cetim em um passa fitas, e a cintura fica marcada pelo swiss waist.

Swiss waist:


Eu ainda vou fazer um tutorial dessa peça, então não vou falar tanto sobre ele, mas eu fiz em tafetá e com forro em brim, e pra estruturar usei barbatanas de plástico. Edit: Tutorial

Acessórios e cabelo:

A foto mostra apenas o cabelo, mas eu ainda não tinha posto os acessórios

 Para o cabelo eu me inspirei nos penteados padrão da época, porque penteados para chá mesmo eu quase não vi. A franja é "falsa", eu cacheei a parte da frente do meu cabelo (que fica a uns 5 dedos abaixo do ombro), com canudinhos (tutorial aqui), e prendi um pouco acima com grampos, pra que ela ficasse com um pouco de volume e não ficasse comprida demais. Eu acabei usando acessórios que já tinha, como as flores no cabelo, e colar, brinco e pulseira de camafeus.
Agora, fotos tiradas no dia, mostrando o resultado comigo usando:

Fotos por Cleusa Vargas:




Foto por Valdeir Neto:


 Foto por Flávio Cabral:



Bem, é isso, espero que tenham gostado ^^ 

domingo, 3 de novembro de 2013

Jane Eyre : Filme (2011) e livro




   Eu tinha visto Jane Eyre a muito tempo, pouco tempo depois que o filme lançou/saiu em DVD, e logo de cara amei! O figurino, a história, os atores, trilha...enfim, é um dos meus favoritos.  Recentemente li o livro e resolvi rever o filme pra  poder comparar melhor e resolvi falar sobre ele aqui. Sou péssima com sinopses, mas vamos lá:



    O filme conta a história de Jane Eyre desde a sua infância. Jane é uma criança órfã que vive com sua tia e seus primos, porém ambos a tratam mal. Ela tem uma personalidade forte e é uma pessoa quieta e observadora, porém sua  tia a tem como uma criança má e mal educada e a manda para um orfanato. Nesse orfanato Jane tem uma educação bem rigorosa e lá permanece até seus 18 anos (os últimos dois como professora), saindo de lá como uma moça bem educada.


    Sempre almejando sua independência, Jane resolve trabalhar como preceptora na mansão de Edward Rochester, onde tem que educar Adele Varens, uma garota francesa que é sua protegida. Nessa mansão Jane precisa lidar com os modos estranhos e muitas vezes rudes do Sr. Rochester e também com um mistério acerca de uma moradora da mansão.


Figurino:




O figurino ficou por conta de Michael O'Connor (também responsável pelo figurino de The Duchess). O livro foi lançado em  1847 mas sua história se passa 10 anos antes, porém o Cary Fukunaga (diretor) achou que seria melhor fazer o figurino da década de 1840, pois nem ele nem o Michael gostavam da moda da década de 30. O próprio Fukunaga disse: "the clothing style of the '30s was just awful". E eu não posso discordar do Fukunaga e agradecer essa escolha porque também detesto essa década, haha.
O figurino é um espetáculo a parte, e dá pra ver bem o contraste entre as roupas de trabalhadoras como a Jane e a governanta da casa (Sra. Fairfax) e pessoas mais ricas como a tia de Lady Ingram, por exemplo.

Quem quiser conferir mais imagens do figurino pode ver aqui.

Jane à frente e Lady Ingram logo atrás.


Trilha Sonora:

A música ficou a cargo de Dario Marianelli (que também fez trilhas de outros filmes de época) e é belíssima e compensa a falta de diálogo em algumas cenas. Uma palhinha:



Diferença livro x filme e sua adaptação:



    Apesar dos cortes sempre presentes em adaptações ( e nesse caso foram condensadas mais de 500 páginas em 2 horas), o filme é bem fiel ao livro e os cortes não comprometem a compreensão da história. Esta não ficou confusa no filme e ainda tem o mesmo "feeling" do livro. A escolha dos atores foi ótima, mas apesar de adorar o Edward Rochester do Fassbender, a personalidade dele acabou ficando um pouco diferente da do livro, no livro ele é mais enérgico e é bem feio (fato esse diga-se de passagem que é  citado constantemente), e o Michael Fassbender pode ser tudo menos muito feio.
    O Cary Fukunaga aproveitou o mistério do Sr. Rochester para dar um clima mais "terror" no filme, recomendo que vejam as cenas excluídas, algumas coisas são melhor explicadas ali.

  Bem, é isso, não sei se alguém por aqui ainda não viu, mas de qualquer maneira fica a dica  de um ótimo filme pra quem gosta de se inspirar nos figurinos e de um romance vitoriano com um quê feminista.  ^^

Citações do livro (contem spoilers):




"Há verdade nas mais loucas fábulas" Edward Rochester
"Ele me fez amá-lo sem ao menos me olhar" Jane Eyre
"E é a você, mesmo pobre e obscura,  feiosa e baixinha, que peço que me aceite como marido" Edward Rochester
"Faça minha felicidade que eu farei a sua". Edward Rochester.
"Se por um lado eu não posso contaminá-la, por outro, você pode me arejar" Edward Rochester
"Meus olhos se voltavam para ele, mesmo sem querer. As pálpebras se erguiam por conta própria, e as íris nele se fixavam. Eu olhava e sentia um prazer agudo em olhar - um prazer raro, embora doce-amargo. Precioso, mas com uma ponta de agonia. Um prazer como o que um homem morto de sede deve sentir ao perceber que o poço até o qual se arrastou tem a água envenenada, água que ele, mesmo sabendo disso, beberá de qualquer forma." Jane Eyre
"Em pleno verão, descera sobre ela o rigor do inverno" Jane Eyre
"Cada átomo de sua carne me é caro como se fosse parte do meu próprio corpo" Edward Rochester
"É melhor levar uma criatura ao desespero absoluto do que desobedecer meras leis humanas, cuja transgressão não faria mal a ninguém?" Edward Rochester
"- Não seria maldade me amar
 - Mas obedecer-lhe seria".
"Leis e princípios não foram feitos para os tempos em que não há tentação"
" Mas creio que nenhum serviço degrada, desde que possa nos tornar melhores" - St. John
"Propensões e princípios devem ser conciliados, de alguma forma" St. John
"A lembrança dele continuava comigo, pois não era um vapor que o calor do sol pudesse dispersar, nem tampouco uma efigie de areia que os ventos fossem capaz de desfazer". Jane Eyre.